As recentes chuvas que castigaram a cidade, assim como a estiagem que comprometeu o abastecimento de água em 2014, são apenas exemplos dos extremos climáticos já previstos para todo o planeta, diretamente ligados às mudanças climáticas. Para executar seu papel perante o quadro e também cumprir o Acordo de Paris, a Prefeitura de São Paulo terá até o fim deste semestre seu primeiro Plano de Ação Climática, com cenários para os anos 2030, 2040 e 2050.
O trabalho está sendo elaborado por um grupo intersecretarial coordenado pela Coordenadoria de Relações Internacionais da Secretaria do Governo Municipal e gestão técnica sob responsabilidade da Secretaria do Verde e do Meio Ambiente (SVMA). O objetivo é apontar medidas de mitigação de gases de efeito estufa (GEE) e medidas para promover a adaptação aos impactos da mudança do clima em nossa cidade, desempenhando seu compromisso de responder à mudança climática.
O documento estratégico também tem importância para todos os demais Planos municipais, pois norteará as políticas públicas de forma transversal. “Não podemos afirmar quais resultados teremos, pois o Plano ainda está em elaboração. Mas já sabemos que, para neutralizar as emissões dos GEE até 2050, teremos muitas coisas a providenciar”, alerta Laura Ceneviva, Secretária Executiva do Comitê Municipal de Mudança do Clima e Ecoeconomia.
Dentre as mudanças, ela cita a troca do combustível da frota de ônibus, expansão da coleta seletiva, e mudanças no padrão de gerenciamento da destinação de resíduos sólidos, antes só encaminhados aos aterros sanitários. “Estes são exemplos de medidas de mitigação”, acrescenta. Já as medidas de adaptação se referem a o que fazer com a cidade diante do que já está executado, como a impermeabilização excessiva do solo, ou o desenho das edificações e sua eficiência energética, ou a recuperação das áreas que compõem as margens de rios e córregos, etc.
“Mesmo que se discuta a renaturalização dos rios e córregos, que pode ser uma das formas de adaptação, é preciso considerar-se o quadro: manter o córrego canalizado ou investir uma verba astronômica para devolver a situação original do córrego, por exemplo, o do Anhangabaú? É necessário haver prioridades, as pessoas têm que morar, não dá para falar em derrubar tudo”, avalia.
Os extremos, por sua vez, tenderão a se agravar, como apontam especialistas de diversos observatórios científicos do clima. “Deveremos vivenciar esses eventos extremos com cada vez mais frequência. Vivemos em um ambiente altamente antropizado – a natureza foi profundamente transformada pelo homem, e precisamos compreender o sentido dessa transformação, pois há custo. A drenagem, que já incorpora a variável de ilhas de calor em seus cálculos, deverá passar a considerar o que os hidrólogos chamam de série dinâmica, ou seja, abandona-se a média histórica, que sempre foi a referência para a precipitação. Isso terá um custo para a sociedade, que precisa ser avaliado de forma a ser menos penoso”.
Em 2021, a Prefeitura realizará o início de uma revisão do seu Plano Diretor, que define compulsoriamente o que deverá ser cumprido pela Prefeitura, fazendo o alinhamento das políticas setoriais. “Não pretendemos que o Plano de Ação Climática seja mais um plano setorial, e sim que dê as diretrizes para as diversas políticas setoriais, fazendo a inserção da variável climática nas diversas políticas setoriais – da política da drenagem urbana às de saúde e de mobilidade. Não há respostas imediatas porque é um processo com o horizonte temporal de 2050”, complementa Laura.
A especialista lembra que a prestação de contas do trabalho de elaboração do Plano tem sido dada à população mensalmente, nas reuniões do Comitê Municipal de Mudança do Clima e Ecoeconomia, realizadas nas terceiras terças-feiras de cada mês (em fevereiro, por conta do feriado, ocorrerá no dia 18). O encontro é, também, segundo Laura, uma forma de divulgar e conscientizar os diversos segmentos da sociedade. “Basta olharmos a nossa evolução histórica de temperatura e precipitação e todas as previsões. O que faremos, quando 2050 chegar, se não fizermos nada? As soluções, sob o ponto de vista ambiental, são sabidas, como ampliação de áreas verdes, ampliar a permeabilidade do solo e ter prédios com eficiência energética para evitar o ar-condicionado. Mas o mais importante é promover uma mudança de mentalidade”.