E se, para construir, fosse necessário antecipadamente saber como reciclar os materiais necessários
para um edifício ao fim de sua vida útil? Pois é exatamente isso que propõe o arquiteto William McDonough, referência em inovação e economia circular. E essa “utopia” já é realidade no edifício Park
20|20, em Amsterdã. Todos os materiais do prédio foram pensados não apenas na utilidade imediata,
mas em sua destinação na hora da desmontagem do edifício, daqui a décadas (ou séculos).

São ideias como essa que McDonough vai trazer para a versão a distância da Virada Sustentável – a
palestra dele está marcada para esta segunda-feira, às 14h (com transmissão no portal estadão.com.br). Autor de livro considerado seminal quando o assunto é economia circular – Cradle to
Cradle, ou do Berço ao Berço –, o arquiteto e pensador desafia a lógica que domina a economia desde a
Revolução Industrial. É a antítese do Cradle to Grave, ou seja, do uso dos recursos até sua exaustão e
descarte. A ideia de McDonough é o reúso contínuo de materiais.
Em entrevista ao Estadão, o arquiteto disse que pensar primeiro em desmontar um edifício – ou qualquer outro produto – é a maneira de garantir seu uso mais eficaz. “Em um prédio comum, você usa toneladas de aço e depois cobre com concreto. Na hora de desmontar, você é obrigado a derrubar tudo.
E tem de achar as sobras para vender”, explica. “Se o edifício já foi pensado na desmontagem, você poderá resgatar uma barra de 10 toneladas de aço e vendê-la por um preço 20 vezes maior.”
Portanto, é preciso que o mundo pense de maneira mais eficaz – o que, na visão de McDonough, não
deve ser confundido com eficiência. Para ele, ao adotar o conceito de “produto como um serviço”, que
prioriza o uso de um bem, em vez da posse do mesmo, empresas como Uber e Airbnb são eficientes,
mas não necessariamente eficazes. O especialista diz que esse tipo de empresa corre o risco de ser negativa, pois é eficiente, ao aproveitar recursos já disponíveis no planeta, mas sem se preocupar com o
bem comum como missão de negócio.
Por outro lado, McDonough diz evitar julgamentos apressados e cita impactos positivos dessa nova
economia. Somente em São Francisco, nos EUA, o Uber movimenta US$ 2 bilhões, quase dez vezes
mais do que os táxis faturavam pouco tempo antes da chegada do app. “Temos muito mais gente utilizando transporte a preços mais baixos, em carros que já existiam. E isso nos faz pensar: quantas pessoas deixaram de se acidentar porque puderam optar por outro tipo de transporte para voltar para
casa?”, questiona.
A relação do arquiteto com grandes conglomerados é próxima. Apesar de ser contra o fastfashion, ele
desenhou uma sede para a Gap (hoje usada pelo YouTube). Ele também projetou uma fábrica para a Ford. E, mais recentemente, se uniu a gigantes como Walmart e Unilever em uma coalizão para a criação de embalagens 100% sustentáveis. Para o especialista, é muito mais eficaz – trabalhar em larga
escala para evitar a produção de lixo, embora também seja importante coletar os resíduos (leia mais
ao lado).

Conexão Brasil.
Sempre em busca de exemplos de sustentabilidade, McDonough achou um para admirar no Brasil: o
de Jaime Lerner, ex-prefeito de Curitiba e ex-governador do Paraná. Para ele, o exemplo de Curitiba
em urbanismo, coleta de lixo e transporte é de nível global.
Segundo o arquiteto, as soluções ambientais mais bem-sucedidas não endereçam questões específicas,
mas necessidades das pessoas. “Quando perguntei ao Lerner o insight para a criação do urbanismo de
Curitiba, ele disse: ‘Trabalhar e viver em todo o lugar, o tempo todo’.”
É um conceito que o arquiteto aplica a seus projetos corporativos, que são projetados para poderem
virar residências. “Foi o que ocorreu em um prédio para a IBM, que foi transformado em residencial.
Agora, com todo mundo em home office, virou escritório de novo.

Clique e saiba mais!