Quantas horas você trabalha por dia? Provavelmente as suas atividades profissionais tomam grande parte da sua vida. Agora, imagine ficar doente ou sofrer um acidente no ambiente de trabalho. Infelizmente, essa situação é bastante comum em todo o mundo.
A OMS (Organização Mundial da Saúde) define as doenças ocupacionais como problemas de saúde contraídos após exposição a fatores de risco decorrentes da atividade do trabalho. E como há diversos ambientes e áreas, as causas variam, afetando a saúde física e mental da pessoa.
De acordo com a Secretaria da Previdência, do Ministério da Economia, em 2019 houve 193,6 mil afastamentos relacionados a acidentes ou doenças de trabalho.
“O trabalhador pode ser exposto a agentes nocivos que causam diversas doenças. Isso aumenta em um ambiente sem condições adequadas. É bastante comum também doenças emocionais, principalmente onde são exigidas metas abusivas, assédios e onde não há o reconhecimento do trabalho realizado”, destaca Rosylane Rocha, presidente da ANAMT (Associação Nacional de Medicina do Trabalho).
Conheça algumas doenças ocupacionais:
Doenças pulmonares
Os pulmões podem ser atingidos por algumas atividades devido à exposição frequente a produtos químicos, poluentes e outros irritantes. Isso pode causar doenças pulmonares graves.
“Incluem desde inflamações nasais, como a rinite, até doenças como câncer. O risco para o desenvolvimento de tais patologias depende do tipo de partícula, concentração, tamanho e do tempo de exposição. Os trabalhadores mais afetados são os da construção civil, mineração e metalúrgicos”, explica Gustavo Frazatto, pneumologista do Hospital Santa Cruz (SP).
Entre as doenças mais comuns estão: asma, devido a inalação de produtos químicos, gases, poeira ou outras substâncias que causam uma resposta alérgica ou imunológica no organismo e pneumoconioses que causam fibrose do tecido pulmonar, favorecendo infecções e até alguns tipos de câncer. E também a DPOC (Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica) quando há uma constante exposição a poluentes.
DORT
Provavelmente, você já ouviu falar sobre LER (Lesões por Esforços Repetitivos). Essa sigla abrange os problemas musculoesqueléticos causados pela sobrecarga no ambiente de trabalho. Mas esse termo foi substituído por Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORT) por ser mais abrangente e não causar uma lesão física propriamente, sendo mais um sintoma de que há algo errado.
Os sinais variam bastante, assim como a intensidade. Geralmente ocorrem danos após o uso excessivo de alguns músculos, articulações, membros superiores e até ossos. Por isso causam dor, sensação de peso e fadiga.
Entre as doenças comuns que atingem os trabalhadores estão: inflamações nos músculos e tendões e as dores musculares e na região lombar. Aparecem assim dores recorrentes e há casos de rigidez articular e inchaços.
“Os desconfortos geralmente aparecem após algum período fazendo esforços repetitivos, carregando peso excessivo, sem descanso durante o trabalho, má postura e preparo físico insuficiente. E não há um tempo certo para eles se manifestarem”, afirma Gilberto Anauate, coordenador do serviço de ortopedia e traumatologia do Hospital Santa Paula (SP).
De acordo com dados do Ministério da Saúde, essas condições foram as que mais afastaram os trabalhadores de suas atividades profissionais. Entre os anos 2007 e 2016 houve um aumento de 184% de casos de DORT/LER. E trabalhadores de vários setores como indústria, comércio, alimentação, transporte e serviços domésticos ou limpeza.
Problemas de visão
Os olhos são bastante sensíveis e também ficam mais vulneráveis em determinados ambientes de trabalho. Quem trabalha em construções ou em indústrias, por exemplo, pode ser atingido por corpos estranhos como poeira, cimento ou lascas de madeira.
É comum ocorrer lesões oculares ou queimaduras, se os trabalhadores não usarem óculos de proteção. Em casos mais graves, leva à cegueira. “A catarata passa a ser um problema decorrente do trabalho quando o indivíduo é frequentemente exposto a altas temperaturas, geralmente em metalúrgicas ou siderúrgicas”, afirma Caio Regatieri, oftalmologista e professor da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
Surdez temporária ou definitiva
As perdas auditivas ocupacionais são comuns e a mais conhecida é a Perda Auditiva Induzida por Níveis de Pressão Sonora Elevados (PAINPSE), que ocorre devido à exposição a sons intensos. Ela atinge os trabalhadores que atuam em ambientes muito barulhentos, por longos períodos, sem que haja o controle adequado desse risco.
“Nos primeiros momentos, pode ser reversível, quando ainda ocorre o que chamamos de alteração transitória do limiar auditivo. Mas se não houver interrupção da exposição ao barulho, a perda se instala de forma definitiva e irreversível”, explica Hugo Leite, otorrinolaringologista e professor da Unirio (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro).
Dermatose ocupacional
A pele é o maior órgão do corpo e também pode ser atingida por problemas de saúde por conta da atividade profissional. A dermatose ocupacional é definida por alterações nas mucosas, unhas, cabelo e pele causadas ou agravadas pela atividade ocupacional ou no ambiente de trabalho.
Entre os problemas mais comuns estão as dermatites de contato, ou seja, um tipo de reação inflamatória na pele por causa de uma exposição a um agente causando irritação ou alergia. Também são comuns as lesões por corpo estranho e queimaduras.
Outro problema bastante frequente é o câncer de pele devido à exposição ocupacional ao ar livre sem proteção solar. É frequente em trabalhadores rurais, mineiros, salva-vidas, carteiros, pescadores, trabalhadores de plataformas de petróleo, entre outros.
Problemas de coluna
A dor nas costas, principalmente na região lombar, é um dos principais problemas que podem acometer a coluna por causa do trabalho. Conhecida como lombalgia, indica desordens causadas por movimentos repetitivos, má postura ou traumas.
Frequentemente, reduz a funcionalidade e gera afastamentos do trabalho. “O problema crônico de coluna limita as atividades habituais, diminui a capacidade funcional no trabalho e na realização das atividades da vida diária. A lombalgia ocupacional é responsável por aproximadamente um quarto dos casos de invalidez prematura”, explica André Evaristo, ortopedista especializado em coluna do Hospital Sírio-Libanês (SP).
Síndrome de Burnout
As doenças ocupacionais podem atingir o corpo e a mente do trabalhador. Quem não conhece alguém que foi afastado de suas atividades profissionais por fadiga, estresse e ansiedade em excesso?
Nesses casos, pode ser a Síndrome de Burnout. Trata-se de um esgotamento severo que causa uma exaustão física, mental e emocional. O trabalhador com Burnout passa a ter um cansaço extremo, tristeza, desânimo e até sintomas físicos como tonturas, alterações no batimento cardíaco e dor de barriga. Estima-se que cerca de 33 milhões de brasileiros sofram com esse problema.
“Os sinais começam com a mudança na disposição para o trabalho e tudo que o envolve. A pessoa se sente sem energia para exercer tarefas ou tratar de temas de trabalho. É comum aumentar as faltas e há uma menor produtividade. Geralmente, a tristeza ou apatia afeta também a vida pessoal. E é uma consequência do adoecimento de um ambiente laboral”, destaca Fabíola Luciano, psicóloga do HC-FMUSP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo).
O que pode ser feito para prevenir?
As doenças ocupacionais podem ser evitadas e controladas com a adequação do ambiente de trabalho. Quem trabalha em indústrias ou fábricas deve usar EPI (Equipamento de Proteção Individual) para proteger a visão, os pulmões e a audição, de acordo com suas funções.
Vale destacar que é necessário adesão a esses equipamentos e treinamentos constantes para adequar o uso correto. Também é preciso o acompanhamento contínuo de profissionais de segurança e médicos do trabalho.
Quem trabalha em escritórios ou fica em frente ao computador precisa se atentar a postura e a posição dos pulsos. E também realizar pausas durante o expediente para se movimentar e alongar.
No caso da Síndrome de Burnout e problemas emocionais, o ideal seria que as empresas criassem um ambiente de trabalho humano, com prazos e metas reais, sem sobrecarregar o funcionário e evitar práticas abusivas.
“Perceber os sinais que seu corpo e emoções te mostram sobre o trabalho é fundamental. Os gestores não podem ser omissos. É preciso uma conscientização e humanização do ambiente corporativo que vem de baixo para cima. Sabemos que o objetivo é dar resultado, mas precisamos falar e reavaliar as formas de atingir esses objetivos”, completa Luciano.
Segundo Rocha, para prevenção das doenças ocupacionais é importante realizar acompanhamento médico constante com os funcionários e investir em medidas protetivas coletivas e individuais. “Tudo isso para resguardar a saúde do trabalhador e da comunidade. Além disso, o trabalhador está protegido por lei e pode se aposentar por invalidez, ser indenizado e ter direito a isenção de imposto de renda, em alguns casos”, finaliza.