As expressões ofensivas às pessoas com deficiência são uma das formas do preconceito que segrega as diferenças e individualidades, estereotipando-as como inferiores e incapazes. O chamado capacitismo é o nome dado ao preconceito contra pessoas com deficiência. Esse preconceito pode se manifestar de diversas formas, desde ações hostis até palavras e expressões comuns que utilizamos no dia a dia. Além disso, a invisibilidade destes corpos, a representação estereotipada e a ideia de que essas pessoas não se adequam à coletividade também são formas de capacitismo.
A seguir, veja formas para começar a trabalhar o anticapacitismo na vida, no trabalho, na escola e em qualquer outro âmbito da vida pessoal e profissional:
- Fale sobre capacitismo: o caminho para conhecer algo perpassa diretamente pelo saber mais sobre a coisa
- Conheça, converse e acompanhe pessoas com deficiência: procure saber mais sobre as vivências com quem as vivencia todos os dias.
- Analise expressões comuns em nosso vocabulário: muitas vezes, por acharmos que uma frase ou um ditado é “normal”, não procuramos analisar mais a fundo seu real significado e suas origens. Isso vale não apenas para o capacitismo, mas para todas as formas de preconceito. Reveja frases como:
- “Pessoa deficiente”: pessoa com deficiência
- “Toda pessoa com deficiência é exemplo de superação”: toda pessoa com deficiência tem histórias de vida diferentes e nenhuma é menor ou melhor que a outra
- “Você só dá mancada”: você só faz besteira
3 tipos de capacitismo
De acordo com o Guia Anticapacitista, e-book escrito pelo influencer nordestino Ivan Baron, existem três tipos de capacitismo:
Capacitismo médico
Esse termo, não necessariamente se relaciona aos profissionais, mas às pessoas que associam deficiências à doenças.
Capacitismo recreativo
Um dos tipos mais comuns, o capacitismo recreativo se refere às piadas de mau gosto que relacionam à deficiências ou pessoas com deficiência. Por exemplo: “ele ri igual um retardado”; “pensava que você era autista andando desse jeito”.
Capacitismo institucional
O tipo de capacitismo encontrado em instituições ao contratarem apenas uma cota de pessoas com deficiências e não tratá-las com equidade. A falta de preparo dos ambientes também pode ser considerada capacitismo institucional.
O papel das pessoas sem deficiência
Ivan Baron explica que pessoa sem deficiência devem ser aliadas das com deficiência. O papel principal é o apoio e a soma de vozes. Tudo começa e gira em torno da inclusão e da equidade. “É preciso saber o lugar de cada um na nossa sociedade. Não se trata de limitar, e, sim, de identificar quais oportunidades alguém tem ou deixa de ter por ser quem é”, diz Baron.
“Eu me tornava uma pessoa com deficiência”
O atual Mister Brasil é um jovem cearense de 30 anos. Hendson Baltazar é modelo, professor de Educação Física, personal trainer, esportista e também é um homem amputado. Há sete anos, foi vítima de um acidente de moto causado por um motorista embriagado, o que resultou em um traumatismo craniano, uma luxação extrema do joelho esquerdo e amputação do pé esquerdo.
“Estava no quinto semestre de Educação Física quando aconteceu o acidente, já amava esporte, já era atleta de futebol. Pensei: e agora, como vai ser minha vida a partir daqui? Eu me tornava uma pessoa com deficiência, amputada. Fiquei com muitas dúvidas”, lembra Hendson.
Naquele momento, os planos de concluir a faculdade precisaram ser interrompidos. Após dez dias em coma na UTI, e quarenta dias de internação no hospital, os sonhos seguiram em outro ritmo, o primeiro deles seria voltar a andar. “A partir deste sonho realizado, eu iria aceitando as novas possibilidades e novos desafios que a vida iria me proporcionar”.
E foram muitas as dificuldades para se adaptar ao novo contexto. Concluiu o curso, começou a lecionar em uma universidade e iniciou o processo de reabilitação com exercícios. Desafiou-se a voltar a ser professor de educação física em academias e tornou-se o primeiro profissional amputado contratado em uma rede de academias presente em toda a América Latina.
Nesse momento de volta aos treinos, despertou a atenção de organizadores de concursos de beleza. Hendson conta que nunca havia pensado em se tornar um Mister, mas a possibilidade de representar as pessoas com deficiência era um propósito maior e nunca antes um homem amputado havia concorrido.
“O concurso não limita a participação de pessoas com deficiência. A questão é que ninguém nunca se atreveu porque, para muita gente, beleza e deficiência são coisas distintas”, explica ele.
Em 2020, ele foi escolhido pelos coordenadores para representar o Ceará na etapa nacional e venceu o concurso. “Quando a gente recebe a faixa, o holofote vem junto e a gente tem que aproveitar para levantar essas pautas tão importantes na nossa sociedade e uma delas era o capacitismo, e eu levei isso para o Mister Brasil. O mundo tem que nos incluir”, explica.
OPOVO – “Você é capacitista? Entenda o que é e como evitar o preconceito contra pessoas com deficiência” – Veja a notícia na íntegra aqui.