A busca por uma cultura da prevenção nas indústrias metalúrgicas é um trabalho diário, que avança aos poucos, mas ainda carece de ajustes para fazer com o que os riscos ocupacionais estejam sob controle. O setor é responsável por um conjunto de procedimentos e técnicas para extração, fundição, tratamento e fabricação dos metais e ligas. Nessas indústrias, o trabalhador fica constantemente exposto a diversos tipos de riscos, como os ambientais, compostos pelo ruído, a fumaça, o calor, produtos químicos, entre outros.
Em agosto de 2020, o Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco e Região apresentou, em São Paulo, uma pesquisa que analisou 105 acidentes graves e fatais que chegaram ao conhecimento da entidade, entre 2008 e 2018. Deste total, 20% resultaram na morte dos trabalhadores. A maior parte dos acidentes (44,8%) foi causada por prensas, partes móveis, máquinas e equipamentos sem proteção. Dedos e mãos foram às partes mais atingidas, representando 60,7% do total. Segundo o sindicato, o levantamento alerta sobre os riscos dentro das fábricas e chama atenção para aprimorar as ações em prol da segurança e saúde do trabalho.
Em termos de prevenção, Adonai Ribeiro, técnico de segurança do trabalho e consultor na área de segurança e saúde do trabalho, afirma que os avanços aconteceram, mas ainda são tímidos em relação às necessidades no arcabouço de SST. O técnico atenta que a questão da cultura vem fluindo a passos ainda estreitos, mesmo se fazendo presente nas inúmeras discussões relacionadas à segurança e saúde do trabalhador.
Reflexos da NR 12
“Com o surgimento do tripartismo, o antigo Ministério do Trabalho e entidades sindicais (de empregadores e trabalhadores), vinham desenvolvendo importantes ações que trouxeram resultados expressivos e contribuíram muito na questão da cultura. Um exemplo são as inúmeras convenções coletivas de trabalho que tratavam exclusivamente das questões de segurança e saúde do trabalhador. O movimento tripartite em torno do assunto envolveu gestores de pessoas, pequenos empregadores, profissionais do SESMT, auditores fiscais do trabalho, magistrados e outros atores que participavam direta ou indiretamente do cenário da SST”, lembra.
O consultor cita ainda as convenções de máquinas injetoras de plástico, a de prensas e similares e de galvânicas, cujos conteúdos, objetos das ricas discussões, contribuíram para a importante alteração da NR 12 (Segurança do Trabalho em Máquinas e Equipamentos).
“Os reflexos da NR 12, embora envolvida por diversas polêmicas, certamente contribuiu para a proteção em muita máquina perigosa no mundo do trabalho, e despertou forte movimento cultural em torno do assunto, haja vista, quando uma empresa protege suas máquinas, acaba por interferir ao seu redor, melhora o ambiente, tanto no ponto de vista operacional, protetivo e psicológico, gerando um ambiente mais saudável e de qualidade produtiva”, declara Ribeiro.
Riscos em evidência
O universo metalúrgico é muito abrangente, e seus riscos variam em função das características de cada processo de fabricação, entre outros fatores. Contudo, de acordo com Adonai Ribeiro, é possível destacar a incidência de acidentes em mãos e dedos, inclusive com mutilações, cortes e esmagamentos, causados por máquinas e equipamentos obsoletos e desprotegidos, comumente encontrados ainda nos parques industriais; existência de muita perda auditiva, gerada por ruído excessivo, risco existente na maioria das empresas metalúrgicas.
Além disso, o consultor chama a atenção para as doenças que comprometem o sistema musculoesquelético, que são as dos grupos das Lesões por Esforços Repetitivos (LER) e os Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORT). “Muitas vezes não reconhecidas pelo empregador, mas, que representam sérios prejuízos – físicos e mentais – para os trabalhadores acometidos, podendo, inclusive, promover a lesão permanente nos casos mais graves”, aponta.
Ribeiro avisa que falta uma cultura para um trabalho efetivo de ergonomia, com a participação real dos envolvidos, os trabalhadores. “Os problemas relacionados às LER/DORT em diversas regiões do corpo, como braços e mãos, pernas e costas (coluna) suscitam queixas referentes à bursite, tendinite, tenossinovite, epicondilite, síndrome do túnel do carpo, mialgias, dentre outras. A surdez é outra doença em relevância no mundo metalúrgico. Contudo, há inúmeros casos de doenças pulmonares e dermatológicas, haja vista, a existência de manuseio com centenas de produtos químicos e seus derivados nas fábricas do ramo”.
Acidentes nas atividades que compõem o dia a dia de trabalho nas metalúrgicas afetam toda a sociedade. Ribeiro entende que acidentes, nos quais inclui as doenças relacionadas ao trabalho, implicam não somente de forma negativa para a segurança do trabalhador, mas afeta o equilíbrio das famílias, causa desgaste, sofrimento e dor. Ele elenca ainda que acarretam prejuízos à Nação, pelos custos dos tratamentos e do tempo perdido. “Esbarram também nos objetivos da organização, promovendo danos na produção, na qualidade dos produtos, maculando a imagem e a marca”, complementa.
O consultor destaca que os acidentes podem ainda, oferecer sérios problemas com relação à possibilidade de as empresas serem multadas, investigadas pelo Ministério Público do Trabalho, sofrerem ação pública, ou ação regressiva por parte da Previdência Social, além de passivos trabalhistas e possíveis agravos com indenizações comprometedoras para o empregador.
Em relação ao atendimento aos Requisitos Legais e Normativos que compõem o setor, Adonai avalia que além de atender as NRs, as empresas devem se atentar aos acordos coletivos de trabalho, legislações específicas estaduais e municipais. “No âmbito da ABNT, existem normas que disciplinam os processos metalúrgicos visando à minimização dos riscos ocupacionais”, informa.
Para ele, o profissional de segurança deve se atentar ao conhecimento de determinadas normas em função das atividades e riscos da sua organização. E entre os EPIs recomendados para trabalhadores do setor, Adonai informa que no caso da metalurgia deve ser devidamente observados os riscos, o uso devido e adequado, a qualidade, e a compatibilidade com o usuário. “Não devemos esquecer que o EPI não é a proteção final e ideal, portanto, vamos lembrar-nos das proteções coletivas (EPCs)”, salienta.
Portanto, sobre os EPCs o consultor diz que não existe uma regra, e cada caso é um caso. “Na proteção coletiva, merece um estudo integral, uma análise de risco verdadeira – não somente no papel -, a qual requer testes e participação de todos no seu desenvolvimento”, orienta.
“Ter bom senso sempre!” é a orientação do consultor, principalmente, aos profissionais prevencionistas do ramo metalúrgico, para se lembrarem disso em todas as suas atuações.
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