As definições de desenvolvimento e qualidade de vida precisam ser repensadas se a humanidade pretende conviver em harmonia com o planeta, alerta um novo relatório da ONU (Organização das Nações Unidas), elaborado pelo IPBES (Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos), o equivalente ao IPCC para assuntos de biodiversidade.

Após um relatório sobre espécies ameaçadas, divulgado na sexta-feira (8), que alerta que a pressão do modelo econômico sobre animais e plantas consumidos pelos humanos está levando-os à extinção, nesta segunda-feira (11) o painel publicou uma carta de valores, dirigida a tomadores de decisão.

O IPBES alerta que o padrão adotado em iniciativas econômico-industriais, seja na construção civil ou na indústria alimentícia, vem levando em consideração apenas o lucro no curto prazo e ignora tanto o dano ambiental quanto o valor da natureza em outros aspectos, como a importância do equilíbrio ecológico para a mitigação das mudanças climáticas e também o valor cultural e espiritual do meio ambiente para os povos que nele habitam.

“A forma como a natureza é valorizada nas decisões políticas e econômicas é um fator-chave da crise global da biodiversidade e uma oportunidade vital para enfrentá-la”, afirma o IPBES em comunicado, ressaltando os resultados de uma avaliação que durou quatro anos e teve 82 cientistas e especialistas de todas as regiões do mundo analisando o impacto das políticas econômicas sobre o planeta, além de povos indígenas.

O painel da ONU destaca que, para um desenvolvimento sustentável das sociedades, é preciso mirar além do crescimento econômico como meta, e para isso propõe formas complementares de avaliação de projetos que impactam a natureza.

Os quatro “pontos de alavancagem”, como propõe o relatório, são: reconhecer os diversos valores da natureza; incorporando a avaliação de fatores extra-econômicos na tomada de decisão; reformular políticas e regulamentos para internalizar os valores da natureza; e mudar normas e metas de impacto social para se alinhar com os objetivos globais de sustentabilidade e justiça.

O IPBES propõe uma reestruturação no olhar das economias ao pensar em desenvolvimento, a partir de um consenso de que a natureza não é apenas uma fonte de recursos, mas sim o meio onde vive a humanidade, e da qual ela depende intensamente para garantir sua sobrevivência.

“Cosiderar os múltiplos valores da natureza na tomada de decisões é uma parte realmente importante da mudança necessária no sistema para lidar com a atual crise global de biodiversidade”, afirma a pesquisadora mexicana Patricia Balvanera, uma das coordenadoras do estudo. “Isso implica redefinir ‘desenvolvimento’ e ‘boa qualidade de vida’ e reconhecer as múltiplas maneiras pelas quais as pessoas se relacionam umas com as outras e com o mundo natural.”

Para a avaliação de fatores extra-econômicos de impacto natural, o IPBES propõe a terminologia “viver da, com, na e como a natureza”. Viver da natureza enfatiza a capacidade da natureza de fornecer recursos para sustentar a subsistência, como alimentos e bens materiais. Viver com a natureza tem um foco na vida “além da humana”, respeitando a saúde e o direito de animais e plantas a uma vida digna e saudável. Viver na natureza refere-se à importância do meio ambiente como cenário para o senso de lugar e identidade das pessoas. E, por fim, viver como a natureza vê o mundo natural como uma parte física, mental e espiritual de si mesmo.

“Há uma maneira dominante de tomar decisões com base em coisas que parecem mais simples, superquantitativas e mais científicas, e estamos dizendo: ‘Não, isso não é boa ciência’. Outros sistemas de conhecimento também podem nos dizer como fazer as coisas”, afirma o professor Unai Pascual, também coordenador da pesquisa, que revisou mais de 1.000 estudos sobre a valoração do meio ambiente em políticas econômicas.

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