De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o primeiro ano da pandemia de Covid-19 resultou em um aumento de 25% da prevalência global de ansiedade e depressão. A discussão sobre saúde mental vem ganhando cada vez mais importância e ela mostra como distúrbios psíquicos são extremamente nocivos ao bem-estar do indivíduo na sociedade. Com cada vez mais notícias alarmantes sobre a crise climática na Terra, as informações sobre os efeitos do aquecimento global também se tornaram um motivo para preocupações. Essa relação específica começou a ser chamada de ecoansiedade ou ansiedade climática.

A Associação Americana de Psicologia define a ecoansiedade como o medo crônico de um cataclisma ambiental que vem da observação do impacto aparentemente irrevogável da mudança climática e da preocupação associada pelo futuro da atual geração e da próxima. Ao longo dos últimos anos, casos de ansiedade climática têm crescido pelo mundo, especialmente entre os mais jovens. A ideia é que, conforme a mudança climática se intensifica e se concretiza de forma inevitável, parte daqueles que se preocupam com o meio ambiente passa a desenvolver um medo avassalador das consequências da degradação da natureza. E, uma vez que as gerações mais novas crescem nesse contexto de maior preocupação com a natureza, elas tendem a demonstrar mais a ansiedade climática.

De acordo com a geóloga e psicanalista Ana Lizete Farias, dentro da psicanálise, a ansiedade é, sobretudo, um afeto. Por sua vez, o afeto é algo que chega à consciência humana e provoca uma sensação. Dessa forma, a ansiedade é algo que a as pessoas sentem, mas nem sempre elas sabem definir o que é aquilo. “Sabemos que as mudanças estão acontecendo, mas ainda não se tem exatamente uma certeza sobre o que vai acontecer no futuro, nem quando exatamente e nem a quem. Temos uma ideia de tudo isso, mas não é algo definido, não dá para cravar. Essas incertezas geram um tipo de expectativa que se potencializa dentro de um grande caldeirão individual das nossas histórias”, disse Farias.

Os problemas ambientais frequentemente associados à mudança do clima são a proliferação de ondas de calor, incêndios e ciclones, terremotos e tsunamis, o aumento da poluição, o acúmulo de resíduos nos oceanos, a perda de biodiversidade, a falta de água, o desmatamento, entre outros. Com tantas questões sendo suscitadas dia após dia em páginas de jornais, não é de se estranhar que uma parcela da população tema pelas suas vidas e pelo bem-estar da Terra.

Um exemplo prático é o da ativista sueca Greta Thunberg, que começou a matar aulas às sextas-feiras como uma forma de fazer greves pelo clima. Ao aprender sobre a mudança do clima na escola e os impactos nos animais, ela sentiu que não fazia sentido se dedicar tanto aos estudos se o seu futuro estava comprometido pelo aquecimento do planeta. Desde 2018, quando ela fez a primeira greve, centenas de milhares de pessoas se uniram a ela em diversas cidades ao redor do mundo.

Além do medo pelo incerto, outro fator que gera ansiedade é a questão do tempo. “Existe um tempo ecológico, um tempo geológico, de bilhões de anos. Ele é completamente diferente do tempo acelerado em que vivemos com a tecnologia. Não temos como apressar o tempo da natureza. Há uma corrida para tentarmos tomar as ações necessárias, ao mesmo tempo em que não há tempo suficiente. Esse fator também pode ser uma causa que gera ansiedade”, disse Farias.

UM SÓ PLANETA – O que é ecoansiedade ou ansiedade climática: como a crise climática se tornou um problema de saúde –  Veja a notícia completa aqui