Na América Latina, a percepção de que sustentabilidade não traz retorno fincanceiro parece estar ficando no passado. Um estudo realizado pela SAP, empresa de softwares de gestão, em pareceria com a CIO Reseacrh e a Seekment, obtido com exclusividade pelo ‘Estadão/bradcast’, mostra que, para 60% dos executivos de quatro grandes economias da região, inclusive o Brasil, a sustentabilidade, seja ela ambiental, social ou de governança, pode trazer ganhos reais.
“Antigamente era uma troca, e ainda tem muito dessa percepção. Mas não necessariamente fazer o correto significa pagar mais caro”, afirma Cristina Palmaka, presidente da SAP para América Latina e Caribe. “Há os custos indiretos, de reputação. Quando você consegue valorizar o produto como sustentável para o cliente final, tem um ganho de percepção da marca muito maior.”
Realizado com 455 presidentes e executivos da América Latina, entre outubro e novembro do ano passado, o levantamento mapeia a tomada de decisão sobre temas delicados em um momento de estresse para as operações das companhias, em plena pandemia da COVID-19. Entre os ouvidos para a pesquisa, 47% são executivos de empresas produtoras de bens, como petroleiras, mineradores e a agroindústria.
O levantamento aponta que 46% das companhias têm estratégias de sustentabilidade e que 22% devem implementá-las em breve. Apenas 9% das empresas não consideram o tema importante para seus negócios. Entre as produtoras de bens, entretanto, o percentual das que já têm políticas em andamento (35%) foi menor que entre as prestadoras de serviços (49%).
Dos quatro países consultados (Argentina, Brasil, Colômbia e México), o Brasil é o que tem a menor quantidade de empresas com uma estratégia de sustentabilidade em andamento. Dos executivos ouvidos no País, 42% afirmaram que o conjunto de regras já existe. Na Argentina, o percentual é de 51%; no México, de 43%.
Cristina acredita que essa diferença diz mais sobre as complexidades do ambiente de negócios brasileiros do que sobre a preocupação local com os princípios que guiam a agenda ESG (de sustentabilidade ambiental, social e de governança, na sigla em inglês). “Uma leitura é a da nossa complexidade como País, com temas fiscais, de reformas. Esse compostoa inda é muito impactante quando comparado com países vizinhos”. Para a executiva, que já liderou a SAP brasileira, ainda assim há uma evolução de mentalidade.
Considerada toda a região, 41% dos executivos afirmaram que suas empresas elaboram relatórios de sustentabilidade, uma maneira de medir os progressos nesse quesito. Adicionalmente, 46% deles consideraram que o tema é importante para os clientes – mais do que os 44% que viram a solidez financeira como ponto fundamental.
Ao analisar com quais aspectos de sustentabilidade as empresas em que trabalham se identificam mais, 60% dos executivos citaram a igualdade de gênero, o maior porcentual em um grupo que inclui profissionais do futuro (54%) e mudanças climáticas (43%). Cristina atribui a centralidade do tema às discussões que acontecem do lado de fora, mas também dentro das empresas, dada a realidade da região.
“Conseguimos mostrar que na América Latina, que historicamente tem um viés mais machista, as mulheres estão ganhando um espaço incrível”, comenta. Dos 20 executivos que se reportam a ela, nove são mulheres. Sua sucessora no Brasil, Adriana Aroulho, é uma delas.
A pesquisa também captou que, para muitas companhias, a sustentabilidade na cadeia de fornecedores ainda não é um tema importante. Para 51% dos executivos da região, o ponto não é decisivo ao escolher um fornecedor. No Brasil, esse total é de 48%. Ainda que estejam longe de ser a maioria, os executivos que levam a sustentabilidade em consideração podem ajudar a influenciar os demais, especialmente em um contexto em que grandes investidores se movimentam para monitorar a “pegada” ambiental dos produtos. “O tema se tornou urgente. E quando isso afeta a competitividade, muito mais fornecedores que aderem à causa passam a estar presentes”, afirma Cristina.
Fonte: Estadão